Monday, October 30, 2006

Marketing Pessoal

Grande marketing pessoal fez o escritor Tico Mariposa, que sagrou lugar na Academia Brasileira de Letras sem nunca ter escrito um livro sequer. Tudo graças a fervorosas campanhas de marketing desenvolvidas por ele. Fazia de tudo para que o achassem um grande escritor. Publicava materias pagas divulgando seus livros (que nunca escreveu), fazia cartazes, pagava artistas para comentarem que estavam lendo seus livros, etc. Não havia uma festa em que os convidados não comentassem: Estou lendo o novo livro do Tico Mariposa. E os mais desavisados, para não ficarem por fora do assunto, também comentavam: Eu li e achei maravilhoso.
Nas livrarias, pregava cartazes com os dizeres: Tico Mariposa, esgotado.
Assim chegou a Academia e, satisfeito com seu feito, revelou toda verdade, certo que com toda esta história seu primeiro livro seria um estouro: O marketing pessoal de Tico Mariposa!

Thursday, October 19, 2006

O assassinato da palavra - uma novela policial

O homem assassinou a palavra. Sozinho e ébrio, no meio da noite, decidiu de uma vez acabar com aquilo que lhe travava a garganta. O gosto amargo da letra-fel ainda era uma lembrança viva.
Esfaqueou a sangue frio a palavra. Letra por letra, sílaba por sílaba e, em um gesto de cólera e graça, assassinou a palavra num vão da sala pouco iluminado.
Na manhã seguinte, jornais locais anunciavam o fato com estranha satisfação. A palavra incomodava, tinha muitos inimigos, dizia o editor do caderno em aálise refinada. O assassinato aumentou as vendas do diário.
O delegado, minucioso, atentava-se aos detalhes. Ele: Gordo, careca, lenço na testa a enxugar o suor que escorria viscoso disse ser serviço de profissional. "Utilizou um objeto perfuro-cortante de maneira precisa e cirurgica, atingindo pontos lexicais-vitais".
O assassino ainda levou a palavra ao banheiro e, antes de jogá-la no vaso e dar descarga, lambeu o sumo, misto de êxtase e medo. Na sala, apenas o rastro das consoantes desconjuntadas. O assassino não deixou pistas.
Chamaram à cena D. Leopoldina, antiga professora de gramática do colégio Santo Agostinho e profunda conhecedora da palavra. A senhora idosa, de saia marrom até os tornozelos, disse ser uma palavra de grande estima e que faria muita falta. Saiu aos prantos, causando comoção nos presentes.
A população achou coisa normal. Logo inventavam uma palavra substituta e ninguem mais se lembrava da antiga, diziam as bocas pelos botecos.
Pobre do Sr. José, que havia escolhido a palavra assassinada para estampar o letreiro de sua loja de discos antigos. Foi obrigado a manter a loja sem nome mesmo, o que acabou por se tornar um nome até mais sugestivo.
Em um canto esuqecido da cidade, refastelado, o assassino analisava conjunções. Sonhador, já se preparava para o próximo crime, comprovando as suspeitas do delegado: Tratava-se de um Serial Killer.

Wednesday, October 11, 2006

A mulher que enganou a própria morte

Dizem que para os lados de Taquaraçu de Minas, a morte visita a casa dos escolhidos à noite, ceifando vidas e buscando almas. Mas com Angélica foi diferente. Tendo pouco dinheiro e já contando idade avançada, comprou um caixão para não dar despesas a família na hora da morte. De dia servia de mesa e à noite se fazia de cama. Sempre que a morte passava pela casa 171 da Rua Feliciano Pinto, via Angélica dormindo no caixão e, confundida, ia embora como chegou. Assim, Agélica já completou 127 anos. Dizem os habitantes da cidade, que ela enganou a própria morte.

Friday, October 06, 2006

Sempre gostei de matar crocodilos, mania esta que herdei de meu pai, junto com a barba crescida e o hábito de não usar cuecas. O chiclete pregado embaixo da mesa, para mascar aos poucos ao longo da semana, aprendi com meu irmão mais velho, que também era grande colecionador de ovos de codorna cozidos e em conserva. Com meu avô, descobri a delicia de se peidar em uma sala de aula, festas de aniversário ou qualquer outro aglomerado, sempre saindo de fininho para não levantar suspeitas. Agora, beber minha própria urina, essa levou tempo, mas eu aprendi sozinho.

Thursday, October 05, 2006

Sobre eu
Sou um psicopata social, agitador (nada) cultural, arcaico, de gestos e comunicação rudimentar, pseudo estratificado de revestimento, careca, barbudo, cego, xulezento, as vezes também chamado de poeta.
Não tenho diplomas, não travo diálogos, não troco de roupa, não trago cigarros.
As vezes crio problemas, cato cavaco, cheiro meu próprio suvaco.
Perdi a hora. Perdi a noção. Mas até onde me lembro, minha mão ainda tem cinco dedos.

Wednesday, October 04, 2006

Poema Plágio
Vida de poeta é uma levada longa, árduo fardo sobre os ombros e breves momentos de calmaria. Vida itinerante. O ganha-pão ganha forma no papel. A idéia assusta, atormenta, assume o próprio corpo, informa. Depois fala: Me dê forma!
Vida de poeta cria e dá asas. Mas a poesia precisa andar para frente, ver novos tipos de gente, ganhar mundo, virar mundo, correr mundo. Os textos vão, o poeta não, ele fica. E insiste no meio da noite de caneta na mão. Assalariado com ganho por produção. As palavras como armas, envergando barras de metal, oxidando os homens aluminio e suas conjunções perfeitas. A palavra tenta.
E quando já amanhecendo, final de expediente, o poeta se deita - descanso merecido - uma nova palavra brota, bruta, a espera de ser lapidada. Novamente ele se entrega ao ato. Doma a fera, aperta o cabresto e diz: Auto lá, se é pra bater vou logo com os dois pés no peito. Não suporto textos pé no saco.
* Inspirado nos poemas do poeta Makely Ka